domingo, 29 de setembro de 2013

Marcos Caiado



nada a declarar. 
a não ser que estou cansado e sem escudos. 
que depois que você foi embora, os deuses ficaram mudos. 
que as borboletas voaram pra outros mundos 
e eu fiquei só. 
só eu e os meus cadernos, 
à mercê dos mais profundos invernos... 

nada a declarar: 
a não ser que eu estou cansado e sem horizontes. 
que depois da sua partida, 
os amigos se debandaram aos montes 
dizendo o quanto fiquei chato e intragável. 
e quando até o automóvel se nega a dar partida, 
repito comigo mesmo: coisas da vida... vai passar! 
a droga, é que nunca passa. 
o foda, é que tudo perdeu a graça. 
(vale acrescentar!) 

vale acrescentar 
que, cada vez que bato à porta da alegria, 
ela grita de longe: passa outro dia! 
tá tudo muito escuro. 
sequer o futuro acredita num claro despertar... 
ficamos então combinados: 
vou dormir com mais este maço de desagravos 
e se por acaso acordar do meio deste pesadelo, 
peço desculpas a ele. 
viro de lado e digo: coisas da vida, amigo... 
pode continuar!