quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Não era amor, era melhor.


"Se não era amor era da mesma família.
Pois sobrou o que sobra de corações abandonados.
A carência. A saudade. A mágoa.
Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo.
Eu bati a 200km/hora e estou voltando a pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez.

Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos.
Talvez seja este o ponto.
Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas.
Onde é que eu estava com a cabeça de acreditar em conto de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar um botão e as luzes apagariam e eu retomaria minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência?
Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não.
Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.
Não era amor, era uma sorte.
Não era amor, era uma travessura.
Não era amor, era sacanagem.
Não era amor, eram dois travesseiros.
Não era amor, eram dois celulares desligados.
Não era amor, era de tarde.
Não era amor, era inverno.
Não era amor, era sem medo.
Não era amor, era melhor."

(Martha Medeiros trecho extraído do livro DIVÃ, 2002)