segunda-feira, 14 de junho de 2010

Entre quatro paredes (Bia Mendonça)



Noite em claro absorvendo loucura
A alegria que o cérebro se nega a produzir
Encontro na química de um pedaço de chocolate
Fórmula quase infalível pra desestabilizar planos de solidão
Ignoro a inspiração que chega
Nego a existência do caderno aberto
A tv abafa os pensamentos com alguma eficácia
Mas, alheia à minha vontade, essa inércia não vai durar a vida inteira
Sair pela rua seria uma boa ideia
A não ser pelo fato de não ser a única a estar lá
Ao virar a esquina alguém pode me chamar pelo nome
Até poderia fingir não ouvir, mas não sou assim, seria obrigada a responder
Conversas ao acaso me preocupam
Posso conduzir o enredo, mas não por todo o tempo
Naquela fração de segundos entre uma palavra e uma respiração
É ali que perco a autoria da história, passo à expectadora de uma trama desconhecida
Ando pela sala
Aquela música no rádio fez o coração contrair de súbito
Quebra-se a aparente segurança da ausência de sentimentos
A mesma nostalgia que acalma, faz chorar
Ah meu Deus, lá se vão as defesas!
Não mais indiferente às emoções
A fuga chega ao fim.